20.4.12

Como dois e dois são sete


"I'll take a quiet life"

Semblante cansado era o que se podia ver se observasse sua face, estava cansado daquele lugar e de toda aquela estagnação típica de cidade do interior no fim do mundo, onde a maior ambição que se podia ter era uma roupa nova para as festas de fim de ano e a maior perspectiva de vida era a de ocupar o lugar do pai nas tarefas diárias e levar a mesma vida que o velho levou e que o pai dele também tinha levado. Ele não sabia o que queria só pôs na cabeça que não era isso. 

Então decidido pegou a estrada e seguindo sua sombra foi caminhando, não olhou para traz, nem se quer pensou no que ele estava deixando. Andou, andou, até que encontrou asfalto, levantou a cabeça e deu com vários arranha-céus que de tão alto ultrapassavam as nuvens espessas e escuras que substituíam o que deveria ser céu por aquelas bandas. Parece que chegou onde queria, se acostumou rápido com a agitação, não perdeu tempo arranjou um emprego e logo depois recebeu um pedaço de plástico que tudo comprava, até mesmo felicidade diziam ser possível comprar com aquele cartão. Não demorou já conhecia todos os jogos, todos os esquemas, já se sentia um deles. 

Apesar de estar na cidade e longe de qualquer animal real ele dançou com porcos, nadou na lama do chiqueiro, comeu na mesa de lobos, se sujou, e pela primeira vez se sentiu feliz por completo, seus olhos brilhavam, lama voava e ele engolia sem piscar tudo de sujo e indigesto que lhe atiravam ao prato. 

Só que ao mesmo tempo que se sentia completo percebia que não era algo que durava, era como ar que sempre escapava por algum lugar, e tinha que fazer tudo de novo e agora com mais intensidade. Então seu corpo e mente foram se cansando daquilo, seus olhos secaram, um peso insuportável lhe caiu sobre os ombros e uma tristeza nunca sentida lhe encheu o corpo e consumiu sua alma não satisfeita lhe levou também sua sanidade. 

Louco saiu a fugir de sua própria sombra, correu, correu e fugindo chegou ao lugar de onde viera, mas sem reconhecer e apenas olhando de longe aquele marasmo familiar, então naquele momento além da tristeza veio até ele também uma inarrável solidão. Sentiu que apesar de intimo aquele lugar não era seu lar, assim como também o lugar de onde estava fugindo. Já não pertencia a lugar nenhum, estava só. Insensato e lúcido.

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