9.7.12

Morto vivo

- Entra, encosta a porta. Eu tava te esperando.
- Eu sei, desculpa a demora, mas eu não vim para o que você pensa, estou aqui apenas de passagem vim lhe visitar meu amigo. Posso me sentar aqui?

Sentou-se ao lado dele, e olhou com um sorriso aquele homem decrépito sentado em um sofá coberto por um pano velho em um quarto pequeno e escuro, iluminado apenas pelo brilho fraco da televisão que agravava sua fisionomia lapidada pelo tempo.

- Amigo? Depois de tudo que me fez ainda tem coragem de me chamar de amigo?
- Só fiz meu trabalho, eu tinha que fazer.
- Mas porque fez como fez?
- Não controlo tudo, simplesmente acontece dessa forma, eu sou só o meio pra isso acontecer. Vamos, guarde esse rancor, vim-lhe fazer uma visita e acho que não está em condições de dispensar já que não recebe muitas.
- Depois do que me fez?
- Vamos deixe de me culpar, se ao menos não tivesse se tornado isso que é agora, se não tivesse se isolado de todos.
- Não, você viria atrás dos outros também.

O velho se levanta com certo esforço e vai até a TV, troca os canais apenas por trocar como se fugisse de algo, volta para o canal que estava antes e torna a sentar-se, durante esse tempo apenas silencio, até que ele perguntou:

- Porque eu ainda estou aqui?
- Deixe isso de lado, vamos conversar sobre outra coisa.
- Droga!! Sobre o que eu iria conversar com você? Quer que eu te pergunte o que acha do tempo de hoje ou quem sabe sobre o que achou das medidas de governo do novo presidente? O que você quer de mim afinal?
- Porque se irrita tanto? Eu te protegi todo esse tempo, eu lhe quero bem... Só vim pra conversar, como amigo.
- Oras seu filho de uma; não me venha com essa, saia já daqui, não tenho nada pra falar com você.
- Certo, vou indo tenho trabalho a fazer, volto amanhã nesse mesmo horário.

E saiu pela porta a Morte, um pouco deslocada, esperava mais daquele que ela sempre protegeu, mesmo assim sabia que podia voltar, afinal, com quem mais ela poderia conversar se não com alguém tão parecido com ela, alguém que por capricho ela tinha protegido até que se tornasse igual a ela.

Encoste a porta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário